Em depoimento de mais de cinco horas ontem à Polícia Federal, o policial militar João Dias Ferreira afirmou que o Ministério do Esporte é o epicentro de um esquema de corrupção envolvendo cerca de 20 pessoas, entre dirigentes da pasta, integrantes do PCdoB, representantes de empresas e de ONGs de fachada. Ele se comprometeu a entregar áudios que, segundo ele, estão relacionados às denúncias. "Vou desarticular esse esquema", disse o PM.
Os áudios apontados pelo delator do escândalo não envolveriam diretamente o ministro Orlando Silva, segundo a reportagem apurou com fontes da Polícia Federal, mas reforçariam a existência do esquema de desvio de verba na execução do programa Segundo Tempo, principalmente.
Esses áudios estariam incluídos no material que foi recolhido pela Operação Shaolin, que investigou no ano passado esquema de convênios entre o ministério e ONGS, muitas delas ligadas ao PCdoB, partido de Orlando Silva e ao qual o PM foi filiado.
Dias chegou ontem à PF por volta das 15h30 para prestar o depoimento anteriormente marcado para a manhã de terça-feira. Na entrada do prédio, o delator do escândalo no Esporte disse aos jornalistas que reafirmaria as denúncias e apresentaria provas contra Orlando Silva.
Isso porque, segundo o próprio PM contou à imprensa, seus advogados conseguiram na terça-feira autorização da Justiça Federal para ter acesso ao material apreendido em sua casa e em seu escritório pela Operação Shaolin, no ano passado. Lá estariam "duas provas cabais" de envolvimento do ministro, segundo Dias. O depoimento do PM chegou a ser encerrado e retomado tempos depois pelos policiais federais. Já passava das 23h quando Dias deixou o prédio da PF.
INVESTIGAÇÕES - Na operação do ano passado, Dias chegou a ser preso pela polícia. Duas entidades que ele criou no Distrito Federal receberam R$ 4 milhões do programa Segundo Tempo e estariam envolvidas no esquema de desvios. O jornal O Estado de S. Paulo mostrou ontem que, seis meses depois de terem sido constatadas "irregularidades graves" na execução do contrato de R$ 2 milhões com a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak), o Ministério do Esporte fechou um segundo contrato com outra entidade em nome do PM.
Os delegados que conduzem o inquérito são da Delegacia de Combate a Crimes Fazendários. Jackson Rosalis e Fernando Sousa Oliveira comandam o inquérito que investiga fraudes no Ministério do Esporte derivado da Operação Shaolin, realizada pela Polícia Civil do Distrito Federal em 2010 e depois transferida para a Justiça Federal e Polícia Federal quando as denúncias alcançaram autoridades com foro especial, como é o caso de Orlando Silva e do atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que foi ministro na época dos primeiros fatos denunciados e era filiado ao PCdoB.