Cantor e compositor comemora nova fase após articular com sucesso a aprovação da PEC da Música
"A PEC da Música vem ajudar a aquecer o mercado. Agora, vamos ter um novo modelo com o fim da cobrança de impostos"', diz Fagner. Foto: TV Brasil/Divulgação
O lançamento do esperado disco de inéditas, com as inevitáveis regravações, teve de ser adiado para o início de 2014 por causa da recém-aprovada Proposta de Emenda à Constituição 123/2011, pela qual Fagner lutou incessantemente – e foi vitorioso. A chamada PEC da Música isenta de impostos CDs e DVDs de autores brasileiros. Mas a carreira, que completa 40 anos, também está à toda, conforme mostra a agenda do cearense: da ponte aérea Fortaleza–Rio de Janeiro a viagens por todo o país. São três a quatro shows por mês.
“Abraçado pelo grande público”, como gosta de dizer, Fagner mantém boa vendagem de discos, independentemente da crise do mercado fonográfico. O próximo CD trará inéditas de Fausto Nilo, Zeca Baleiro, Clôdo (autor de Revelação, ao lado dos irmãos Climério e Clésio) e de Michael Sullivan (parceiro de Paulo Massadas, com quem assina o sucesso Deslizes). O disco, ainda sem título, terá também a releitura de uma canção do mineiro Vander Lee.
“Já musiquei uma letra que Vander Lee me mandou, mas, a princípio, vou gravar Onde Deus possa me ouvir, que tenho cantado em shows e o público aprovou. Gosto muito de Esperando aviões”, revela o cearense. “Vander Lee foi uma grata surpresa para mim. Trata-se de um cara sensível e antenado”, elogia. Eles se aproximaram graças a um amigo em comum: Zeca Baleiro.
Crítica
“Brega, eu?”, reage o cantor cearense, salientando ter adorado a fase em que a crítica o acusou de apostar na breguice para vender. Segundo ele, esse foi o preço de ter se aproximado do público por meio de canções como Borbulhas de amor, bolero do dominicano José Luiz Guerra, cuja letra ganhou versão em português de ninguém menos que o poeta Ferreira Gullar. Naqueles anos 1980, Fagner musicou e gravou também o poema Fanatismo, da portuguesa Florbela Espanca. “Hoje, brega é moda”, constata, divertido, lamentando o fato de seu repertório oitentista não ter soado bem aos ouvidos da crítica.
Indiferente à crise da indústria fonográfica, ele diz que o público pede disco e repertório novos. “O mercado é sempre assim”, constata Fagner, observando que a pirataria e a internet prejudicaram os artistas. “A PEC da Música vem ajudar a aquecer o mercado. Agora, vamos ter um novo modelo com o fim da cobrança de impostos”. Para ele, a isenção trará reflexos positivos para artistas e showbusiness. Além de artista, Fagner é empresário, dono de emissoras de rádio no Nordeste. “Seja em que formato for, a questão, de agora em diante, é apostar na criatividade”, avisa.
A temporada mineira do compositor está prevista apenas para o ano que vem, provavelmente já com o novo CD. “O disco está romântico, mas tem pegada pop, para cima, com baladas e instrumental atualizado”, anuncia Fagner. Parte do novo trabalho foi gravado em Fortaleza e a finalização é feita no estúdio carioca de Michael Sullivan.
Hipocrisia
Aos que o acusaram de irascível – sobretudo no início de carreira –, Fagner responde: não é hipócrita. “Sempre fui um cara contundente, que não gosta de botar panos quentes nas coisas”, afirma, dizendo que, recentemente, surgiram articulações de “oportunistas como o grupo Procure Saber” (liderado pela empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso), querendo assumir a paternidade da PEC da Música. Há anos Fagner faz lobby junto aos congressistas a favor da isenção de impostos para discos de autores nacionais.
Sem preconceito
Artista nordestino que conquistou o Sul Maravilha – assim como Ednardo, Belchior, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Alceu Valença, entre outros –, Fagner, de 64 anos, deixou o Ceará no início da década de 1970. Apresentou-se em palcos de todo o país, como no Festival de Música Jovem do Ceub, em Brasília, em 1971. O cantor e compositor cearense garante ter obtido mais apoio do que sofrido rejeição no Sudeste. “Sinceramente, não me lembro de preconceito. As pessoas sempre gostaram do que eu cantava e me apoiavam, além de gravar minhas músicas”, lembra ele. Em 1972, Mucuripe foi sucesso de Elis Regina antes mesmo do lançamento de Manera fru fru, manera, o disco de estreia do compositor, que chegou às lojas em 1973.