sexta-feira, 31 de maio de 2013

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Homem morre sob suspeita de “mal da vaca louca” no RN

Data: 31 maio 2013 - Hora: 13:58 - Por: Portal JH

A família de Manoel Cândido de Araújo passa por uma verdadeira maratona desde esta quinta-feira (30). Morador do município de Santo Antonio, a cerca de 70 km de Natal, Manoel faleceu ontem, aos 58 anos, após aproximadamente três meses de sofrimento, principalmente para seus familiares. Mas, o pior ainda estava por vir.
Desde a confirmação da morte, nenhum médico ou autoridade da Secretaria Municipal de Saúde teria aceitado assinar o seu atestado de óbito. O motivo seria a causa da doença que tirou a sua vida. Seu Beto Cândido, como era mais conhecido, teria contraído Creutzfeldt-Jakob, mesma síndrome causada pelo mal da vaca louca.
O documento só foi liberado pelo Serviço de Verificação de Óbito do Hospital Giselda Trigueiro na manhã de hoje, depois de uma longa espera dos familiares. Como motivo da morte, os especialistas apontaram “demência precoce progressiva”, citando o agente infeccioso de onde origina a doença citada acima, os príons.
No início, a família procurou uma psiquiatra em Santo Antonio. A especialista iniciou o tratamento e pediu a realização de exames. Após os primeiros resultados, informou a esposa do então paciente, Bernardete Araújo, que o problema não tinha cura. Depois, orientou que Beto fosse transferido para o Hospital Onofre Lopes, em Natal, onde teria seu caso estudado.
“Então decidi consultar meus filhos e preferimos não aceitar que ele servisse de cobaia, achamos melhor deixar ele em nossa casa, já que havia a garantia de que o problema não era contagioso”, disse Bernardete a O Jornal de Hoje. Depois, um novo médico foi consultado para que Beto Cândido recebesse um atestado lhe considerando inválido para o trabalho, foi quando a família conheceu pela primeira vez o estranho nome científico da doença.
O documento, assinado pelo neurologista e neurocirurgião Heider Lopes de Sousa no último dia 2 de maio, é baseado principalmente em informações obtidas a partir de uma ressonância magnética do crânio de Beto, realizada no Hospital do Coração, em Natal, no dia 14 de fevereiro desse ano.
Segundo o resultado do exame, assinado pelo radiologista Leonardo Bernardo Bezerra, era preciso “considerar entre as hipóteses diagnosticadas variante de Creutzfeldt-Jakob. Sugerimos controle rigoroso e correlação com dados clínicos”.
“Todas as semanas médicos do município passavam pela nossa casa para conferir como ele estava, mas não falavam nada demais. Sempre diziam que estava tudo bem, que não havia perigo”, lembra Bernardete.
Doença
Segundo estudos científicos, a doença de Creutzfeldt-Jakob pode se apresentar em diversas formas. O problema pode ser adquirido, por exemplo, a partir de uma ação médica, como transplantes e implantes, ou pela utilização de medicamentos. Também há a possibilidade de ser produzido pelos próprios genes do paciente, de forma esporádica, quando alguma proteína defeituosa causa o distúrbio. Em alguns casos, o mal é hereditário, embora sejam bastante raros. As estatísticas apontam que a incidência da doença é de 1 para cada 1 milhão de habitantes.
Apenas na década de 90 os pesquisadores reconheceram a variante de Creutzfeldt-Jakob. Esta distingui-se das formas clássicas porque atinge pacientes de todas as idades e apresenta, em seu início, sintomas sensoriais e psiquiátricos. Esta forma da doença é causada através do consumo de carne e vísceras bovinas provenientes de animais afetados pela encefalopatia espongiforme bovina, vulgarmente conhecida como doença da vaca louca.
OUTRO LADO
Esta reportagem entrou em contato com o prefeito de Santo Antonio, Lula Ribeiro. O chefe do executivo municipal informou que a Prefeitura está à disposição da família para ajudar nos procedimentos e que o laudo com o atestado de óbito não teria sido fornecido porque o problema ainda não estava 100% diagnosticado.
O prefeito disse ainda que a Secretaria Municipal de Saúde já havia entrado em contato com o Estado para buscar as orientações necessárias para o enterro. Até um caixão especial seria disponibilizado pela cidade.
O secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, não atendeu as ligações do JH, assim como os representantes da diretoria do Giselda. Após fornecer o atestado de óbito, a unidade de saúde informou a família que o corpo poderia ser enterrado no cemitério da cidade, sem representar riscos para a população.