Os eleitores brasileiros já
estão acostumados a escolher o presidente da República em ano de Copa do
Mundo. Mas em 2014, com o Mundial em casa, o evento deve ser mais
explorado durante as campanhas eleitorais. Mesmo assim, o resultado
dentro dos campos deve ter pouca interferência nas urnas.
Segundo especialistas em Ciência
Política ouvido, as manifestações populares fora dos gramados são o que
vão influenciar diretamente o resultado das eleições de outubro.
Independentemente do desempenho da
seleção brasileira, os protestos e as greves que podem ocorrer durante a
Copa devem ter impacto muito forte nas urnas.
O professor de Ciências Políticas da
PUC-RIO (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Ricardo
Ismael, avalia que a vitória ou derrota da seleção na Copa vão ter
repercussão somente no mundo do futebol. Segundo ele, o clima do lado de
fora dos estádios é que vai impactar diretamente o processo eleitoral.
— O resultado da eleição não depende do
que vai acontecer no campo, do desempenho da seleção. Terá algum efeito,
mas não será o elemento decisivo. Os protestos, os eventos no contexto
da Copa do Mundo que podem acontecer, é que vão influenciar. Há uma
incerteza grande sobre as manifestações, sobre a greves e isso pode ter
repercussão política e eleitoral.
Temas mais importantes
O professor de Ciências Políticas da UnB
(Universidade de Brasília), David Fleischer, avalia que o desempenho da
economia do País será um tema muito mais relevante para o eleitor do
que a conquista do hexacampeonato.
O especialista analisa que crescimento
econômico será um dos temas centrais da campanha eleitoral. Mesmo assim,
o professor acredita que a presidente Dilma Rousseff vai evitar ir aos
estádios para não se expor e que os candidatos de oposição também não
vão querer associar a imagem ao Mundial.
— Há vários fatores, como a economia,
que podem influenciar muito mais do que a Copa. O resultado do Mundial
não afetar a campanha. Mas, a presidente Dilma já decidiu que não vai ao
estádio nem para ver a decisão, com medo de levar vaia, como ocorreu no
ano passado.
Na abertura da Copa das Confederações,
em 2012, a presidente Dilma foi vaiada no Estádio Nacional de Brasília,
ao lado do presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol),
Joseph Blatter.
O professor de Ciências Políticas da UnB
João Paulo Peixoto também acredita que outros temas vão dominar o
cenário político durante a campanha e que o Mundial não será utilizado
ostensivamente no debate eleitoral.
Segundo ele, três meses separam a final da Copa das eleições e isso é muito tempo para a dinamicidade da política.
— A dinâmica da política é muito grande.
Tem um espaço grande entre julho e outubro e muita coisa pode
acontecer. A única coisa que eu acho que a Copa vai realmente
influenciar é o humor do brasileiro.
Retrospecto
De acordo com os especialistas, nenhum
dos candidatos que venceram as eleições nos anos em que o Brasil foi
campeão foram eleitos por causa do resultado do Mundial. Desde a
redemocratização do Brasil, houve duas eleições emblemáticas que
coincidiram com conquistas de títulos da seleção.
Em 1994, ano em que o Brasil foi tetra,
Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente. Para os especialistas, o
que deu a vitória à FHC foi a implementação do Plano Real, e não a
conquistas de um título depois de um jejum de 24 anos.
Em 1998, o Brasil perdeu a Copa da
França, na final do Mundial, para os donos da casa. Ainda assim,
Fernando Henrique foi reeleito presidente da República.
Já em 2002, ano do pentacampeonato, Luiz
Inácio Lula da Silva foi eleito presidente pela primeira vez. Os
cientistas políticos avaliam que, como ele não era o candidato da
situação (ganhou de José Serra, que era apoiado pelo presidente FHC), a
vitória não tem nenhuma relação com o desempenho do Brasil na Copa do
Mundo.
Em 2006, o Brasil foi eliminado nas
quartas de final, novamente pela França, na Copa da Alemanha. Mas o
resultado não prejudicou a campanha de reeleição de Lula, que recebeu a
maioria dos votos para governar o País pelo segundo mandato.
No ano de 2010, Dilma Rousseff,
candidata da situação, foi eleita presidente do Brasil, mesmo depois de a
seleção ter sido eliminada nas oitavas de final da Copa da África.
R7