segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Noite de natal


Luiz Eudes Cruz de Andrade

A tarde vai embora calma e lentamente. A noite chega soberana. O homem pára o carro na praça. Há moças na calçada de uma casa grande. São suas primas. O homem está acompanhado da sua filha. Uma das moças os convida a entrar. E eles entram por um corredor. A moça abre a porta da sala ao lado. Um mundo encantado surge num momento mágico: é o presépio de Dona Sinhá que há muitos natais faz brilhar de encantamento os olhos das crianças.

Dona Sinhá foi quem criou aquele espetáculo para animar as noites de Natal de Paraíso. Hoje ela arma lapinhas com os anjos e santos no céu. Um céu sempre azul e iluminado. Ela está lá e de cima observa crianças que todas as noites de dezembro visitam a sua casa e, atentas, observam o músico anunciando por seu tambor a chegada de Papai Noel, que sobe a escada e dança twist. No presépio há um convívio fraternal do animado gorila com o pacato burrinho, do cantante pássaro azul com as silenciosas borboletas, dos peixes e cobras que, de longe, miram os animais sagrados: a vaca e a ovelha, o galo e o jumento.

É noite de Natal e no centro de tudo está a representação do nascimento de Cristo. Dona Sinhá montava o presépio seguindo uma tradição iniciada por São Francisco no século XIII. Quando ela partiu ao encontro com Deus, suas filhas e colaboradoras resolveram homenageá-la colocando uma foto sua na parede da sala e dando seguimento ao seu projeto, sabendo que lá no alto ela iria montar um novo presépio, com anjos e santos de verdade, tendo o Menino Jesus Cristo ao vivo e em cores.

A menina e seu pai estavam encantados com tudo aquilo. O homem lembrava de antigos natais quando vinha com os seus amigos e ali ficavam horas a contemplar, alegrando-se com tudo. A menina também se sentia assim. A sala logo foi invadida por uma pequena multidão de curiosos. As crianças chegavam e logo atrás vinham os seus pais que também queriam participar da festa. O homem lembrava de quando ia aos grotões dos Pilões buscar ramas de barba de velho, catava pedrinhas nas barrancas do açude, cessava areia da velha praça empoeirada e apanhava barro tauá no barrocão do Junco para fazer as imagens que enfeitavam a lapinha de uma das suas irmãs.

E como era bonito tudo aquilo. E o homem, naquela noite, pensava nos meninos andarilhos pelos caminhos das roças iluminados pela beleza cósmica da Lua protegidos por São Jorge, o Santo Guerreiro. Aqueles meninos talvez não conhecessem o presépio de Dona Sinhá, talvez nem soubessem o que é um presépio, mas o que lhe confortava era saber que a lua nasce para todos, não importa onde esteja e, quando a noite termina, momentos e palavras se eternizam.