sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Novo Jornal destaca O Crime do Motel em Santo Antonio-RN

PM é acusado de matar advogada dentro de motel

Advogada assassinada num motel fica com o rosto desfigurado; família afirma que o ex-namorado da vítima planejou a morte, mas ele, que é PM, diz que não se recorda das agressões.

DO NOVO JORNAL
Fábio Cortez/NJ A morte da advogada Vanessa Ricarda de Medeiros, 37 anos, está envolvida em uma trama que envolve ameaças, premeditação, sequestro e tortura. É nisso em que acredita a família da mulher assassinada a pauladas na madrugada de ontem em Santo Antônio, a 70 quilômetros de Natal.

Parentes descartam que o policial militar Gleyson Alex de Araújo Galvão, 35 anos - autuado em flagrante pelo homicídio – tenha agido somente por ciúme e diz que ele planejou a morte da advogada, com quem namorou por três anos e estava separado há seis meses.


Foto: Fábio Cortez/NJ.

Familiares de Vanessa Ricarda de Medeiros, que ontem compareceram ao Itep, estavam chocados com o crime.
O caso chocou a cidade de Santo Antônio pela brutalidade. Na porta do Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep), na tarde de ontem, familiares evitaram ver o corpo de Vanessa Medeiros. A razão para o comportamento foi a gravidade dos ferimentos que desfigurou o rosto da mulher e deixou diversas marcas pelo corpo. Familiares cobraram Justiça e pena severa para o soldado PM apontado pela Polícia Civil como o autor do crime.

O caso teve início quando a Polícia Militar foi acionada por volta das 2h da madrugada de ontem para uma ocorrência em um motel em Santo Antônio. Funcionários do estabelecimento relatavam gritos e previam que estavam ocorrendo agressões. Chegando ao local, a guarnição da PM não demorou a se deparar com o soldado Gleyson de Araújo Galvão vestindo apenas um short com marcas de sangue. No interior do quarto, Vanessa estava sem consciência, mas ainda com vida.

O socorro médico foi acionado, mas antes que ela pudesse chegar ao hospital, não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu. A polícia relatou ter encontrado um pedaço de madeira com pregos na ponta, provavelmente retirado de uma cadeira ou mesa, e que teria sido utilizado para desferir golpes.

Após encontrá-lo do lado de fora do quarto, policiais militares prenderam o colega de farda, que está há sete anos na Corporação e atualmente era lotado no 8º Batalhão. Ele foi conduzido para depoimentos e depois levado a uma unidade militar para permanecer afastado dos presos comuns em razão da atividade que exerce.

O que antecedeu a ida de Vanessa e Gleyson ao motel é o que a polícia quer descobrir. As versões apresentadas pela família contrasta com que foi apresentado pelo suspeito em depoimento. Para a sobrinha da vítima, Ravenia Dantas, o crime foi planejado.

Ao NOVO JORNAL, a parente relatou a relação conturbada entre Vanessa e Gleyson. Eles mantiveram um relacionamento por cerca de três anos e haviam encerrado há seis meses. Desde então, as ameaças se repetiam. “Ela acabou depois de ele ter batido nela durante uma briga. Há seis meses, ele vinha ameaçando ela e a coagindo psicologicamente”, disse Ravenia.

A sobrinha da vítima acrescentou que a mulher evitava registrar as brigas e ameaças na polícia para preservar os pais de Gleyson, com quem mantinha bom relacionamento. Para ela, está claro que a advogada foi sequestrada. “Ela foi levada para o motel à força e foi torturada lá. Ele é um psicopata e representa um risco para a sociedade. Queremos que ele permaneça preso o máximo de tempo”, afirmou.

Ravenia acrescenta uma tese não confirmada pela polícia. Segundo ela, o assassinato teria contado com a participação de dois homens. Além de Gleyson, um colega da polícia também teria participado do crime; presença que teria sido notada por funcionários do motel na entrada do local.

No início da noite de ontem, familiares aguardavam a liberação do corpo para realização do sepultamento na manhã de hoje no povoado Santo Antônio, município de Parelhas, a cerca de 250 quilômetros da capital.

Advogada estava na cidade para cancelar abertura de escritório 
A família ainda não sabe por quanto tempo a advogada Vanessa Medeiros esteve em Santo Antônio. Apesar disso, sabe a motivação que a levou a sair de Natal, onde possuía residência no bairro de Morro Branco, para ir até a cidade da região Agreste: Vanessa ia desistir do contrato de aluguel que havia firmado para iniciar os trabalhos em um escritório de advocacia especializado em Direito Previdenciário. Ela queria evitar mais problemas com o soldado Gleyson, que morava em uma cidade próxima dali. A situação denota o clima de tensão vivido entre os ex-namorados. A advogada trabalhava em Natal e também prestava serviços em Parelhas, cidade onde nasceu. Familiares a descreveram como uma “pessoa alegre e trabalhadora”. “Ela era feliz e humana. Fazia até defesas de graça, se fosse necessário, e estava com muitos clientes. Recentemente, havia se convertido e era evangélica”, disse o cunhado da vítima, Genilson Dantas.

Genilson informou que a família está chocada com o ocorrido. “Uma grande barbaridade foi praticada. O cara utilizou um porrete cravejado de pregos. O corpo ficou bastante ferido”, disse Genilson.

Advogado pedirá a liberdade de policial

O soldado PM Gleyson Araújo prestou depoimento ao delegado Everaldo Fonseca na manhã de ontem. Fonseca é titular da DP em Santo Antônio e o responsável pela condução do inquérito do caso. Ao NOVO JORNAL, o delegado disse o que ouviu do policial.
O PM disse ter agido motivado por ciúmes durante uma briga do casal. Nas palavras do delegado, ele ainda não havia notado a gravidade do que aconteceu: “Ele está um pouco aéreo. Parece que não se tocou da gravidade do crime que cometeu. Parece que ainda não caiu a ficha dele”, disse.

O PM não repassou à polícia outros detalhes do que ocorreu no interior do quarto, pois diz não se lembrar exatamente do que ocorreu. A polícia aguarda a finalização do exame cadavérico e da perícia realizada no local do crime para concluir a investigação.

O delegado falou como a briga teria sido iniciada na versão do PM. “O policial falou que a briga começou depois de ter recebido uma ligação e a mulher ter questionado para saber quem era. Ele não mostrou o telefone e a briga seguiu. Eles teriam ido para o motel após passar a tarde bebendo com amigos”, informou.

A versão do início da briga foi confirmada pelo advogado Nilo César Cerqueira, que representa o policial. “Ele falou que a briga começou depois que ela tomou o celular dele. Depois disso, ele não se recorda do que aconteceu e só se lembra quando a polícia chegou. Apesar de não saber o que causou a morte dela, está profundamente arrependido pela situação”, disse o advogado. Nilo César acrescentou que entrará com pedido de liberdade provisório, pois acredita que o policial não irá prejudicar o decorrer da investigação.

OAB vai acompanhar inquérito
Através do seu site oficial, a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional RN, divulgou uma nota de falecimento em que informa que irá “acompanhar o caso de perto”. “A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte lamenta a morte da advogada Vanessa Ricarda de Medeiros, que ocorreu na madrugada desta quinta-feira (14), no município de Santo Antônio do Salto da Onça/RN, em decorrência, possivelmente, de assassinato”, lê-se.
O informativo acrescenta que a advogada era natural do município de Parelhas, a cerca de 250 quilômetros de Natal. Ela havia se formado em Direito pela Faculdade de Natal no ano de 2011 e desde então passou a atuar em diversas cidades do Seridó e era cadastrada na Subseção de Caicó. “A Ordem irá acompanhar o caso de perto e adotar as medidas necessárias para o esclarecimento dos fatos e a punição dos responsáveis”, informou a nota.

Na manhã de ontem, o presidente da OAB no RN, Sérgio Freire, deslocou-se até a cidade para acompanhar os primeiros passos do caso. Ao NOVO JORNAL, ele classificou o crime como “brutal e cruel”. “Estive com o delegado e inclusive pude ter acesso ao inquérito. Foi um crime passional e marcado pela crueldade. Só nos resta lamentar e nos solidarizar com a família”, disse Freire. Ele acrescentou que uma comissão de advogados será constituída para acompanhar os trâmites do inquérito.