sexta-feira, 15 de julho de 2011
Hoje é Dia Internacional do Homem. Será que vai pegar?
Criança, mulher, idoso... todo mundo tem seu dia. Só faltavam eles. Mas não se acredita que a data, criada sem base em nenhum critério, vai se firmar
Talvez os mais esquecidos não consigam lembrar da data exata, mas todo mundo sabe que existe o Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março. O que pouquíssima gente sabe é que existe também um Dia Internacional do Homem, que seria celebrado hoje, dia 15 de julho. Mas por que nesse dia? Ao contrário da data feminina, originada a partir de um movimento histórico liderado por mulheres pela redução da jornada de trabalho, em 1857, o Dia Internacional do Homem não tem uma origem conhecida. Algumas datas teriam sido sugeridas e a que acabou “pegando” foi essa.
Há quem duvide que a data realmente se firme. O laboratorista Eli de Paula considera que a idéia até é interessante. “Tem dia pra todo mundo, tem dia das crianças, da mulher, do idoso, é justo que tenha um dia do homem, mas acho que o dia da mulheres ainda vai continuar sendo o mais forte”, opina.
Para a cuidadora Cristiane Roque dos Santos, a notícia da existência da data foi uma surpresa. “Com base no quê? Acho que só pode ser inveja isso”, brinca. Para ela, o dia da mulher é importante pelo valor histórico. “Apenas criar uma data igual para os homens seria algo sem fundamento. Mas não sei, talvez para eles seja importante”, reflete.
É por aí mesmo. Segundo o terapeuta Sérgio Savian, que atua como consultor de relacionamentos, os homens estão enfrentando um momento de busca por identidade. “Os homens estão hoje com a personalidade enfraquecida, estão sem referência”, argumenta. Para ele, o dia deveria ser aproveitado como oportunidade para uma discussão ampla sobre os aspectos da masculinidade na sociedade. “As mulheres não estão satisfeitas com o homem atual”, aponta.
Savian acredita que existem três tipos de homem: os machistas, os não-machitas e os acuados. Os machistas em geral são homens mais velhos ou que tiveram uma educação baseada em valores machistas. “Isso pode ser culpa das próprias mulheres que criam seus filhos cheios de regalias, mal-acostumados”, defende. Outro tipo são os homens que se sentem acovardados diante de mulheres independentes. “Eles ficam sem atitude, são eternos adolescentes, têm medo de compromisso”. E por fim existem os homens que não são machistas, mas que ainda são a minoria. “Aqueles que colaboram nas tarefas da casa, que têm uma relação igualitária com as mulheres”, explica. Segundo ele, filhos criados apenas pela mãe, em geral, têm esse tipo de personalidade. “Eles têm uma boa imagem das mulheres, sabem respeitar, são mais sensíveis e entendem melhor o ponto de vista feminino”, completa.
Para o terapeuta, a criação de uma data para exaltar os homens não tem cunho machista. “Hoje não há mais espaço para pensamentos machistas, que são vistos como algo politicamente incorreto. O fundamental é entender que não há superioridade ou inferioridade, não se trata de defender um posicionamento machista ou fe-minista, somos todos humanos”, afirma. Ele admite, no entanto, que o Dia Internacional da Mulher vai continuar sendo mais forte, por ter toda uma conotação histórica e por ter marcado uma reação feminina em relação à opressão.
Sem comparação
Para a professora e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Estudo do Gênero da Universidade Federal do Paraná, Marlene Tamanini, não há como comparar as duas datas. “Não é a mesma dinâmica. O movimento feminista tinha uma série de propostas de promoção do desenvolvimento, emacipação e inserção da mulher na sociedade. Já os homens sempre estiveram em uma posição privilegiada. Acho que só faria sentido se fosse um movimento de inversão ao modo feminino. Que os homens estivessem reivindicando a posição de procriador, de cuidador, se estivessem querendo entrar no universo feminino. E isso não está acontecendo”, analisa. Para ela, a criação da data pode ser encarada como um movimento de rechaço à organização das mulheres, uma necessidade de demarcação da identidade masculina. “Como se os homens instigassem a si mesmos a se auto-compreender”, diz.
O assunto divide opiniões e se a data vai realmente “pegar”, não se sabe. Pode ser que com o tempo o comércio adote o Dia Internacional do Homem como mais um motivo para trocar presentes. Mas uma coisa é certa: se a criação vingasse as mulheres não teriam mais que aguentar aquela velha piadinha de que todo dia é dia do homem. “É justo que os homens tenham uma data só para eles. Se a gente tem um dia só, eles deveriam ter um só também”, defende a professora Luciane Souza.
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